Tecnologia e novos insumos auxiliam no tratamento da diabetes

Pâncreas artificial, sensor de glicemia, insulina inalável e “porta de entrada” para insulina são algumas opções para melhorar a vida dos pacientes

A tecnologia auxilia cada vez mais no tratamento de quem tem diabetes mellitus. Pensando em promover melhor qualidade de vida aos pacientes, novos insumos e aparelhos surgem para garantirr uma rotina mais normal.

A diabetes é uma doença metabólica que ocorre quando o organismo se torna incapaz de produzir insulina ou até produz, mas em quantidade insuficiente para suprir a demanda interna. A insulina é um hormônio produzido no pâncreas e responsável pela digestão dos açúcares ingeridos nas refeições. Graças a esse processo, o alimento se transforma em energia, fundamental para manter as funções do organismo.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, no Brasil há mais de 13 milhões de pessoas vivendo com a doença, o que representa 6,9% da população. Em Jundiaí, segundo a Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS) são 8.883 pacientes ativos.

A endocrinologista da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Mariana Jorgino, explica que o tratamento da diabetes tipo 1 consiste em uso de insulina. “Os pacientes têm uma destruição pancreática, por um mecanismo autoimune. Os tipos mais comuns de tratamento são as insulinas. De ação lenta, ultralenta, ação rápida e ultrarrápida, que podem ser administradas através de seringas, agulhas ou ainda canetas próprias para aplicação”, afirma.

Recentemente aprovada a insulina inalatória é uma insulina de ação ultrarrápida que pode ser utilizada nas refeições. No entanto, ela deve ser associada a uma insulina de ação lenta no tratamento do DM1. Os pacientes têm que ser maiores de 18 anos, pois ainda não há estudos em crianças. As doses administradas são fixas e os pacientes não podem ter problemas pulmonares. A vantagem é diminuir o número de aplicações de injeções subcutâneas, mas seu uso ainda é bastante limitado e seu custo muito elevado (R$ 1900).

Já o pâncreas artificial é uma bomba de infusão contínua de insulina, na qual são feitos cálculos de insulina basal e quantidades necessárias para cobrir refeições. A grande vantagem é que o catéter de infusão da medicação pode ser trocado a cada três dias e o paciente diminui aplicações de insulina. O custo é elevado, tanto da bomba quanto dos acessórios, mas é possível tentar obter via SUS.

Porta de entrada para insulina: O dispositivo “i-port” é uma “porta de entrada” de insulina que fica no subcutâneo e deve ser trocado a cada 72 horas ou 75 aplicações. O paciente faz as aplicações de insulina através desse dispositivo, evitando várias aplicações diárias. O custo não é baixo (R$ 499 com 10 unidades).

Sensor que monitora glicemia: Em relação à monitorização, há disponível um monitor contínuo de glicemia que fica fixo no subcutâneo e a verificação dos valores em um aparelho é feita para o Bluetooth. O sensor deve ser trocado a cada 14 dias. A vantagem é a diminuição do número de “picadas” nas pontas dos dedos para verificação de índices glicêmicos. No entanto, seu custo é bastante elevado (R$ 239 cada).

A endocrinologista ressalta que os pacientes devem ser avaliados individualmente em relação ao uso desses tratamentos mais modernos, analisando o impacto financeiro e perfil de tratamento proposto. “Todas essas novas tecnologias são desenvolvidas pensando principalmente em paciente com DM1, pois a qualidade de vida deles é sempre um fator a ser levado em consideração. A partir do diagnóstico, a rotina se torna mais complexa, com várias aplicações de insulina diárias e testes de glicemia capilar (ponta de dedo) frequentes, restrições alimentares e idas frequentes ao médico para exames de rotina. Qualquer coisa que possa ser feita para diminuir as “picadas” e facilitar a alimentação, principalmente quando se pensa em crianças diabéticas, deve fazer parte da avaliação desses pacientes”, explica.

A jovem estudante de medicina Maria Eduarda Dantas, 21 anos, descobriu que era diabética aos oito anos. Utiliza o sistema de pâncreas artificial há cerca de dois anos. “O sistema de pâncreas artificial é uma “automação” da bomba de insulina em conjunto com o sensor de glicose. Ele mede minha glicemia de cinco em cinco minutos e manda para o aplicativo. Se a taxa de açúcar no sangue estiver elevada, a bomba libera uma quantia no organismo para que não dê hiperglicemia. A bomba e sensor eu uso há mais de três anos, já o sistema de pâncreas artificial em conjunto com eles uso faz uns dois anos”, explica.

O sistema foi criado por um grupo de diabéticos e familiares de pessoas com a doença pensando em dar mais independência para a pessoa. É disponibilizado gratuitamente. Porém, o custo com a bomba e os sensores é alto. “O sistema AAPS e completamente gratuito, mas para você usá-lo e necessário a bomba AccuChek Combo da Roche, o sensor FreeStyle Libre e o transmissor MiaoMiao. A Bomba da Roche custa R$ 13.200,00 reais, e os insumos mensais custam R$ 753,68 (plano de assinatura mensal DiabetesBox). O sensor FreeStyle Libre custa R$ 239,99 e são necessários dois por mês, ou seja, R$ 480. O transmissor MiaoMiao custa R$ 1.500, compra única, pois diferente do libre ele não é descartável.

Ou seja, e um investimento inicial de R$ 14.700 mais R$1.150,16 de insumos mensalmente. Infelizmente, tecnologia em diabetes ainda é muito cara, mas e possível conseguir esses insumos (exceto o transmissor MiaoMiao) via processo judicial”, explica Maria Eduarda.

Apesar do custo, a jovem conta que o investimento vale a pena e não deixaria de usar o pâncreas artificial. “Entre as vantagens, menos hipoglicemias, menos ‘furadinhas’, por não ter que ficar aplicando insulina toda hora, menos hiperglicemias já que o sistema detecta quando a glicemia está subindo e aplica insulina automaticamente. A única desvantagem, além do preço, é ter que andar sempre com o sensor e a bomba, mas não me importo e hoje em dia já é algo que faz parte de mim”, ressalta.

Desmistificando

A endocrinologista ressalta que o DM1 não tem como fator de risco os hábitos alimentares. “O consumo de doces não é um desencadeador da diabetes. A ingestão excessiva de açúcares está mais relacionada à fisiopatologia do diabetes do tipo 2. Os indivíduos com o tipo 1 têm uma predisposição genética ao aparecimento da doença. Trata-se de um distúrbio autoimune, com anticorpos que causam destruição pancreática. Sabe-se que alguns fatores ambientais, como infecções ou estresse metabólico importante podem funcionar como um ‘gatilho’ para manifestação da doença, mas apenas em indivíduos predispostos”, afirma Mariana.

Fonte: Jornal de Jundiaí

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